sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O Rei Torto.





 O REI TORTO.


Havia o rei, não por merecimento, mas por incompetência do outro conquistador que havia pleiteado o trono.
Assumira jurando corrigir uma situação toda errada, segundo ele “uma herança maldita”. Forjara sua reinação em cima de uma suposta austeridade, da mesquinharia em setores importantes para a população e vassalos, que inquietos diante de uma cultura de caça às bruxas que vinha crescendo por todo o vale, direcionava a escolha de seus soberanos diretamente ligada às falhas de governança,mesmo que algo irrelevantes perto do que tinham agora debaixo de seus narizes , fatos que viraram motivo de indignação em cada viela, e que acabou virando uma cruzada moralizadora e burra,  e o atual mandatário, como uma experiente raposa, de rabo bem felpudo,  havia se prevalecido desta situação e através de fiéis escudeiros que trazia  junto ao longo dos vinte e tantos anos que esteve com a barriga a roncar, principalmente de ambição pelo poder, pois sim, ele já estivera antes  lá antes , já sentira o aroma embriagante do poder, armou uma rede de influências em algumas esferas determinantes, de comunicação, espalhando boatos e raiva,  que acabou  alavancando-o ao poder. Era quase lascivo aquilo. Assumira uma postura centralizadora, nada acontecia sem que passasse por seu olhar inquisitivo, para seu regozijo.
Era um dono de terra sem terra. Mas no vale isso era comum. Um brasão familiar ou o sobrenome ainda eram muito importantes, abria portas, fazia que mesmo alquebrados pela crise que os consumira nos longos anos de afastamento do poder, pudessem ter um sentimento imaginário de superioridade econômica e cultural à maioria do povo.
As coisas iam de mal a pior. As pessoas das vilas distantes estavam desassistidas, embora tivessem se vendido por muito pouco, agora sofriam os reveses que poderiam ter sido evitados em caso de uma escolha politicamente consciente. Mas a miséria sempre foi inimiga das avaliações claras e do bem comum.
Quem tinha noção e capacidade de entendimento sabia que no fundo não podia culpar essas pessoas humildes. A velha raposa havia acenado com uma simpatia típica dos velhos, que sumiu logo no primeiro dia de governança. Seus asseclas também mostravam sinais de descontentamento. A ideia de governo participativo e que lhes desse um retorno financeiro quase que imediato caiu por terra quando o velho lhes ofertou um salário irrisório ou pagou dívidas antigas com posições em cargos. Tinham apenas aquilo agora. As convicções,ideologias e vantagens,agora se restringiam a meia dúzia mais próximos à raposa.
O rei tinha seu tempo contado. Sabia disso, mas nada era comparado ao sentimento de soberba, de ter reconquistado algo depois de tanto tempo. O resto se danasse. Talvez houvesse conspiradores, articuladores trabalhando implacavelmente para derrubá-lo, gente de dentro, gente com meios de espalhar as notícias, gente com capacidade de questionamento e de influenciar a opinião popular. São uns idiotas pretensiosos, julgou. Afinal dezembro está próximo e daria ao povo algo tipo morfina para o sofrimento. Diversão e parafernálias visuais.  Ganharia mais um fôlego, coisa de meses. Precisaria de algo para desviar o foco depois.
Quem sabe convencer a base da pirâmide que construir um novo castelo seria um objetivo comum e vantajoso...